Se houve algum homem que se aproximou do ideal de "rei-filósofo" da República de Platão, e conseguiu ser bem sucedido tanto na condução do Estado quanto no caminho da filosofia, este homem foi Marco Aurélio, imperador de Roma. Ele foi o último dos cinco imperadores que governaram o Império Romano num período conhecido como Pax Romana (Paz Romana), que durou até a sua morte, em 180 d.C. Curiosamente, a última década de sua vida foi quase toda dedicada a defender o Império de invasores bárbaros - havia paz dentro do Império, mas não em suas fronteiras.
Devido a haver sido educado pelos melhores mentores e sábios de sua época, Marco Aurélio conheceu a fundo a filosofia grega, e veio a se apaixonar pelo estoicismo, particularmente pela obra de Epicteto. Sem dúvida teria sido mais simples se dedicar à filosofia estoica no espaço reservado de uma escola filosófica, mas isto não foi possível ao imperador Marco Aurélio, que tinha literalmente o maior império de seu tempo dependendo dos seus cuidados. O fato de ele ter sido bem sucedido em seu caminho filosófico, mesmo diante de tantas responsabilidades e atribulações, faz dele quase que um exemplo de homem divino, embora ele próprio pouco se importasse com a fama.
Aliás, Marco Aurélio jamais desejou publicar obra alguma. As suas Meditações, que tinham a si mesmo como destinatário, eram nada mais que diários pessoais, escritos sabe-se lá a qual custo em meio ao seu governo. De fato, ele passou os últimos dez anos de sua vida residindo longe do conforto de Roma, defendendo a fronteira norte do Império dos ataques de povos bárbaros. E ao que tudo indica foi precisamente nesses anos, quem sabe para ajudar a si mesmo a ser resiliente a guerra, quem sabe por puro amor a filosofia, que Marco Aurélio escreveu e presenteou a história da filosofia com esta obra.
O tradutor.